Nesses 17 anos de vida cristã tenho me deparado com irmãos que gostam de usar a frase: “lutar contra o pecado”. Se nos atermos ao sentido mais estrito do verbo lutar vamos ter uma ideia errônea do que a Bíblia quer de nós. O dicionário Aurélio trás o significado de lutar como: combate, disputa, duelo, briga. Um outro dicionário traz a ideia de “desafio para saber quem é o mais forte ou quem ganha algo”.
Tenho conversado com inúmeros jovens que durante os seus relacionamentos enfrentaram o problema das carícias e excessos com o parceiro. Quantos jovens têm chegado perto de ter uma relação sexual fora da aliança do casamento (outros inúmeros já caíram nesse erro) porque entendiam que deveriam lutar contra o pecado.
Recordo-me certa vez que um rapaz me disse que não queria desrespeitar a namorada nem desagradar a Deus, mas estava difícil para ambos se controlar nos momentos que estavam sós. Conversamos várias vezes e aconselhei biblicamente o caminho que deveria seguir. No entanto, para minha surpresa, ele disse: pastor, não se preocupe comigo, conversei com minha namorada e vamos lutar contra isso, vamos nos dedicar a oração, jejuar, nos consagrar e vamos vencer o pecado.
Você deve tá se perguntando: o que tem de errado nisso? A grande questão foi o meu conselho, não disse a ele que deveria lutar contra o pecado, mas, fugir dele. Ele decidiu lutar contra ele, entrar numa briga, medir forças com a própria carne; ou, como o termo no dicionário afirma – ver quem vai ganhar. Neste caso, deveria evitar ficar muito tempo só com a namorada, fazer mais atividades em grupo e pensar no casamento o quanto antes se condições tivessem para isso. Paulo nos diz que é melhor casar do que viver abrasado (I Co 7:9). Se estamos enfrentando algum problema com determinado pecado, devemos tomar atitudes radicais como o sermão do monte ordena: “Se o teu olho direito te leva a pecar, arranca-o e lança-o fora de ti; pois te é mais proveitoso perder um dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado no inferno” (Mt 5:29). Qual o sentido disso? Quer dizer que em tratando-se de pecado, é necessário chegar a atitudes radicais (não a literal de arrancar a própria mão) em relação ao pecado em si. Como exemplo deixo a atitude radical de um casal em não mais ficar só namorando, sempre saem com alguém e na casa dos pais, não passam mais do que alguns minutos na despedida a sós, isso para evitar erros outrora cometidos. Isso é uma atitude radical, é o cortar a mão do sermão do monte.
Devemos fugir daquilo que nossa carne se alimenta, daquilo que sabemos que pode nos levar a pecar. Pois muitas vezes, vamos perder a luta, pois a carne está mais forte. O mais pertinente e sábio, é fugir do pecado.
Jesus afirmou que verdadeiramente o espírito está pronto mas a carne é FRACA. Lutamos contra nossa própria vontade, uma víbora adormecida no inverno da nossa alma, que vez por outra desperta para lançar suas peçonhas e realizar seus desejos e vontades. Certa vez um homem foi interrogado sobre sua sorte em sempre ganhar nas apostas de brigas de cães que aconteciam na sua cidade. Ele disse em segredo para seu amigo: não é sorte, é porque eu sei sempre quem vai ganhar. Seu amigo então pergunta: como você sabe quem vai ganhar? Ele responde: ora, sou eu quem alimenta os cães dias antes das lutas, e eu deixo sem comer alguns, e na hora da luta eu aposto sempre nos que eu alimentei bem, os fracos, sei que vão perder.
É assim na nossa vida espiritual, se você alimentar a carne, ela vencerá o espírito, se você constantemente alimentar seu espírito e deixar mortificar a carne, o espírito certamente vencerá.
José experimentou o assédio constante da esposa de Potifar, vemos isso no livro do Gêneses. Entretanto, qual foi a postura de José, lutar contra a tentação ou fugir do pecado? A narrativa de Moisés nos informa que na última tentativa de seduzir José, a bela esposa do comandante do Faraó puxa as vestes de José. Imaginem a formosura da esposa do oficial mais nobre do soberano do mundo antigo? José como homem feito de carne e osso tinha toda a oportunidade de ter um caso com ela e trair seu Deus e o oficial. No entanto, José não entra em oração, não se ajoelha, nem fica no recinto pensando em resistir aos convites daquela bela mulher. Ele faz o que todo homem que sabe das suas limitações faz – foge!
Muitos fazem justamente o contrário que a Bíblia manda fazer. Em Tiago 4:7 ordena: “resisti ao diabo e ele fugirá de vós”. Já o Apóstolo Paulo nos ensina: “Fugi de toda a aparência do mal” (I Ts 5.22).
Então concluo me indagando: por que muitos querem resistir ao pecado e fugir do diabo; ao invés de resistir ao diabo e fugir do pecado?
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